Três tipos de teologia

Três categorias correlacionadas de teologia contribuem para o conteúdo teológico do sermão: teologia exegética, bíblica e sistemática.

Teologia exegética

A exegética é a teologia do próprio texto bíblico. É o produto teológico da análise exegética do pregador do texto no seu contexto. Por exemplo, a teologia exegética de Colossenses 3:12-18 inclui afirmações como: “a virtude é tanto um resultado quanto uma obrigação da graça de Deus”. Ou: “os escolhidos por Deus para experimentar a graça de Cristo refletem o poder transformador de Deus na maneira em que vivem, têm comunhão e adoram”.

Embora a passagem seja orientada por sua própria aplicação, sua exortação de “vestir” as virtudes da vida cristã está fundamentada na teologia da graça e da eleição.

Não é dito aos colossenses que façam essas coisas para se tornarem filhos de Deus, mas porque já são o “povo escolhido de Deus, santo e amado” (Cl 3:12).

Timothy S. Warren define a teologia exegética como “a expressão de um princípio teológico universal que o pregador descobriu no texto por meio dos processos exegético e teológico”.

Teologia bíblica

A bíblica também é teologia exegética, mas praticada em uma escala maior. Se a teologia exegética examina uma faceta de uma doutrina da visão microscópica do texto para o sermão, a teologia bíblica tem uma visão de satélite da mesma doutrina.

A bíblica se ergue acima do texto e observa o desdobramento progressivo de uma doutrina particular ao longo de todas as Escrituras, em uma parte particular ou em um único autor bíblico.

É o produto da análise exegética coletiva. As informações necessárias para formular uma teologia completa sobre o Espírito Santo, por exemplo, começam em Gênesis e continuam até Apocalipse.

Entretanto, nem todo livro se refere ao Espírito, e algumas passagens meramente descrevem suas atividades. Bem no começo de Gênesis, o Espírito é descrito como aquele que se move sobre as águas (Gn 1:2). Ele era um agente da criação.

Os livros proféticos do Antigo Testamento descrevem como o Espírito Santo capacitou homens e mulheres tementes a Deus, selecionados para falar em nome de Deus.

O Novo Testamento tem uma revelação mais plena da natureza do Espírito. É aí que ele é mostrado mais claramente como uma pessoa divina (Jo 14, 16, 17). As cartas de Paulo, especialmente 1 Coríntios 12—14, descrevem seu relacionamento com a igreja e seus ministros.

Teologia sistemática

A sistemática é um estudo da doutrina organizado por tema. Em vez de observar o desenvolvimento progressivo de uma doutrina particular, ela tenta sintetizar o conteúdo teológico das Escrituras em um resumo unificado da doutrina cristã como um todo.

O clássico de Calvino “As Institutas da Religião Cristã” é um bom exemplo de um estudo sistemático de doutrina bíblica organizada por tema. Ele é organizado por quatro divisões principais.

O livro I lida com o conhecimento do Deus Criador e se concentra na natureza de Deus e nas maneiras em que ele se revelou à humanidade.

O livro II ocupa-se da natureza da redenção e realça tanto o problema do pecado como a obra de Cristo. O livro III lida com o tema da redenção aplicada ao mostrar como pecadores recebem a graça de Cristo e vivem por ela.

O livro IV discute a natureza e o ministério da igreja. Ao longo de toda a obra das Institutas, Calvino defende suas asserções com citações das Escrituras e interage com muitos religiosos antigos e contemporâneos (em seus dias).

Cada abordagem tem suas limitações. A fraqueza da teologia exegética é seu foco estreito. Reflexão teológica limitada pelo que está explicitamente colocado em um texto frequentemente resulta em teologia unilateral ou distorcida.

Por exemplo, uma teologia das obras baseada unicamente em Tiago 2:14-20 tenderá ao legalismo e pode até resultar em um evangelho baseado nas obras. Por outro lado, uma teologia das obras limitada a Efésios 2:8 pode não fazer justiça ao potencial transformador do evangelho.

O desafio da teologia bíblica é sua extensão imensa. Poucos pastores, se é que há algum, têm o tempo necessário para fazer uma análise exegética abrangente de cada passagem que lida com uma ou mais das ideias teológicas encontradas em um dado texto.

O Perigo da teologia sistemática

O perigo da sistemática é que ela pode ser usada de um modo que sufoca a voz de um texto. Um sistema teológico pode forçar injustamente um texto incorretamente a se encaixar em um molde para o qual não foi projetado.

O sistema teológico, como uma fábrica de massa de modelar para crianças, descarta tudo no texto que não encaixa nele. Por causa dessas limitações, a tarefa da pregação requer atenção aos três tipos de teologia.

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